YGOR SALLES
da Folha Online
Depois de ter um pregão marcado pelo medo da ampliação da crise do crédito imobiliário de alto risco ("subprime") nos EUA, a Bovespa (Bolsa de São Paulo) devolveu hoje as perdas, seguindo de perto o desempenho do mercado americano.
O bom humor de hoje foi causado pelo enfraquecimento dos temores sobre a saúde financeira dos bancos americanos e pela confirmação do corte de 0,75 ponto percentual nos juros americanos promovido pelo Fed (Federal Reserve, o BC daquele país).
O Ibovespa --principal indicador da Bolsa paulista-- avançou 3,2%, para 61.932 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,78 bilhões, em linha com a movimentação média desse ano, com cerca de 206 mil negócios realizados. Já o dólar comercial fechou cotado a R$ 1,69 para a venda, com queda de 1,97%.
O mercado brasileiro andou em linha com as Bolsas americanas, que também fecharam com fortes altas. O índice Dow Jones avançou 3,51%, enquanto que o tecnológico Nasdaq Composite teve alta de 4,19%.
"Enquanto o mercado estiver volátil, seguiremos colados ao mercado americano. Depois que passar a turbulência, aí poderemos crescer mais, aproveitando os fundamentos macroeconômico que temos", disse Alcides Leite, professor de mercado de capitais da Trevisan Escola de Negócios.
As Bolsas brasileira e americanas estiveram em alta desde o início da manhã, com a divulgação dos resultados do primeiro trimestre fiscal do Goldman Sachs e, principalmente, do Lehman Brothers. Mesmo apresentando reduções, foram vistos de forma otimista porque vieram acima do esperado pelos analistas.
O lucro líquido do Goldman Sachs teve queda de 53% no primeiro trimestre fiscal (período encerrado em 29 de fevereiro), ficando em US$ 1,51 bilhão (US$ 3,23 por ação), contra US$ 3,2 bilhões (US$ 6,67 por ação) um ano antes. O resultado ficou acima do esperado pelos analistas, que era de US$ 2,58
Já o Lehman Brothers reportou redução de 72% no lucro do trimestre fiscal, também encerrado em fevereiro, para US$ 489 milhões (US$ 0,81 por ação). Os analistas esperavam lucro por ação de US$ 0,72.
Depois da quase falência do Bear Stearns --salvo pelo JP Morgan, que o comprou por US$ 236 milhões-- os investidores viram no Lehman Brothers uma potencial nova vítima da crise do subprime, fazendo o preço das ações do banco cair mais de 20% ontem. O resultado do Lehman faz com que o mercado se acalme. A ação do banco subiu 43,2%.
Por tabela, instituições financeiras que tiveram fortes quedas ontem --como National City, MF Global, Ambac e Countrywide-- hoje apresentam altas de mais de 10%.
Fed
Apesar de ter confirmado o corte de 0,75 ponto percentual que o mercado esperava, o Fed trouxe um panorama bastante pessimista no comunicado da reunião do Fomc (Comitê de Mercado Aberto, na sigla em inglês).
"As condições de crédito e o aprofundamento da contração imobiliária devem pesar sobre o crescimento econômico nos próximos trimestres", apontou o documento.
Com isso, as Bolsas americanas e brasileira chegaram a ter um momento de hesitação após a divulgação da nova taxa de juros americana, mas logo se recuperaram.
O corte na taxa de juros tem efeitos tanto na economia "real" como no mercado acionário. Na economia "real", faz com que os juros para crédito fiquem menores, incentivando o consumo e, consequentemente, fomentando o crescimento econômico. No mercado financeiro, significa que os títulos públicos americanos ficarão menos atrativos, forçando o investidor a procurar outros investimentos --ações, por exemplo.
O Brasil é beneficiado quase que imediatamente pelo segundo efeito, já que os investidores à procura de maior rendimento aportam seus recursos nas Bolsas, em especial os dos países emergentes.
"Há uma percepção clara de que a crise é profunda e extensa", disse Leite, da Trevisan. "O Fed poderia ter dado um corte maior, mas perderia poder de fogo para o caso da crise continuar. Mantendo cortes em linha, mostram constantemente que estão de olho nos acontecimentos."
Segundo ele, será necessário fazer uma "limpeza" no mercado financeiro americano, o que inclusive pode custar a quebra de mais algumas instituições financeiras no país --como ocorreu com o Bear Stearns.
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