Editorial: Mais de uma vez
Contrariando as práticas de segurança durante tempestades, banhistas lotavam a areia de Praia Grande (litoral de São Paulo) no dia 29 de dezembro, quando um raio caiu sobre dois guarda-sóis que abrigavam oito pessoas da mesma família. Quatro delas morreram.
Ocorrências desse tipo são bem mais frequentes do que se supõe. O Brasil é recordista nesse quesito, com cerca de 50 milhões de descargas elétricas por ano.
Elas provocaram, de 2000 a 2013, 1.672 mortes, 80% das quais poderiam ter sido evitadas com a devida orientação, segundo o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
No episódio mais recente, no começo desta semana, duas pessoas morreram na área rural de Embu-Guaçu (SP), na Grande São Paulo.
A maioria dos casos ocorre justamente em zonas rurais, mas as praias também oferecem risco –foram seis mortes no ano passado apenas no Estado de São Paulo.
Numa reação quase instintiva, o nível de alerta aumenta nos dias seguintes às tragédias. Em Praia Grande, por exemplo, os banhistas passaram a se retirar rapidamente da orla marítima no início de tempestades, e os salva-vidas reforçaram o trabalho de orientação.
O desafio é transformar em prática estável esse impulso natural. Um ano atrás, houve comoção semelhante no litoral paulista, quando uma mulher foi atingida por um raio no Guarujá. As mortes nos últimos dias demonstram, todavia, que os acidentes ainda não levaram a ações preventivas eficazes.
As orientações são simples. Durante tempestades, locais próximos a veículos são perigosos (mas é seguro ficar dentro de um carro fechado); lugares abertos, como praias, campos de futebol e zonas agropecuárias, devem ser abandonados. Também é importante saber que abrigos como cabanas, toldos e árvores atraem raios.
Mesmo dentro de casa a segurança é relativa: não se deve ficar perto de condutores de eletricidade (entre os quais se incluem telefone com fio e celular sendo carregado), já que o para-raios não abrange a rede elétrica da rua. Por fim, grandes peças metálicas representam alguma ameaça.
Com a devida precaução, muitas vidas poderiam ter sido salvas. É preciso, pois, reforçar campanhas educativas –inclusive para derrubar o mito de que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
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